Essa semana foi “movimentada”, mas não no melhor sentido da palavra.
Ontem, mais ou menos ás onze da manhã eu estava no hospital, mais uma vez. Já que não foi o suficiente ter ido semana passada depois do meu tropeço no cinema que me custou uma contusão no braço direito. É foi no cinema. Pode acreditar.
Ontem, mais ou menos ás onze da manhã eu estava no hospital, mais uma vez. Já que não foi o suficiente ter ido semana passada depois do meu tropeço no cinema que me custou uma contusão no braço direito. É foi no cinema. Pode acreditar.
Então, estava eu no hospital mais uma vez, só que ontem por outro motivo. Dor de garganta. Muita dor de garganta, que refletia em uma dor de ouvido também insuportável. Depois de um longo tempo de espera, o médico da emergência me examinou. Abri a boca e a primeira coisa que ele falou foi: “Tá horrível!”. A partir daí mais que dolorida, estava assustada. Minha mãe desconfiada pediu pra examinar também. Pronto, a expressão no rosto dela já era suficiente para eu imaginar a visão que eles tiveram. Eu sou assim com essas coisas de doença, sempre imagino o pior. Pois então, fiquei no soro lá no hospital. Recebendo alguns remédios pela veia. Até a enfermeira achar minha veia foi um custo como sempre. Aí eu já estava assustada, e dolorida duplicadamente.
Na sala comigo estavam também um casal (ambos com dengue), um senhor com a esposa e um jovem muito irritado de estar sentado, esperando as gotinhas do soro pingarem, e a minha mãe. Que, aliás, é uma santa. Sempre vai comigo ao hospital. De repente entra por uma porta um médico ou enfermeiro e diz: “Emergência! Trauma!”. Uma enfermeira, se não me engano chamada Maria das Dores (um nome bem sugestivo não acham?) que estava atendendo o senhor com a esposa, disse: “Deixa que eu vou!”. O senhor que estava sendo atendido, perguntou: “Você gosta de atender trauma?” Ela: “Sim!”. E riu. Eu, com minha dor, não me prestei a entender muita coisa, só escutava.
Passou-se um tempo, a minha dor era igual, o soro do casal com dengue estava no final e entrou outra enfermeira e perguntou: “O que houve lá no trauma?”. Uma terceira respondeu que não sabia. A outra insistiu e perguntou: “Teve alta celestial?”. “Aham”. E continuou: “Nossa, me livrei dessa!”. Fiquei pensando o que era alta celestial. Pensei. E resolvi perguntar para minha mãe: “Mãe, o que é alta celestial?”. Minha mãe olhou com uma cara triste pra mim: “Morreu”. Naquele momento muita coisa passou pela minha cabeça. Não sei como, mas comecei a lembrar da quarta-feira.
Eu tinha ido a uma visita a UFRJ. Assisti várias palestras sobre diversas profissões. Entre elas direito, comunicação, astronomia, nutrição... (Não que eu me interesse por todas, mas achei legal conferir algumas, como astronomia). E disse pra minha mãe que estava muito em dúvida entre direito e comunicação e não sabia o que fazer. A gente conversou sobre aquilo. Ela sempre atenciosa. Explicando-me o que era cada cargo do direito. Foi aí que eu disse: “Entranho como a vida das pessoas toma rumos tão diferentes, né? Quero dizer, até então estamos todos no ensino médio, depois parece que tudo se ramifica”.Minha mãe concordou e disse: “É. Cada um tem um lugar onde gosta de estar. Esse pessoal gosta de estar aqui no hospital. Atendendo e lidando com pessoas”.
Aquilo ficou martelando na minha cabeça. E cheguei a várias conclusões. Não lembro da maioria. Mas sei que é assim mesmo que as coisas são. Uns querem abrir corpos, curar doenças e salvar vidas. Outros gostam de analisar as estrelas e fazer cálculos de física. Ainda tem o grupo da natureza, os que querem lidar com os animais. Outros com a terra, com o computador, com alunos, com livros, com leis, com átomos e alimentos... A dúvida para onde se ramificar, que caminho seguir, se imaginar no futuro, é tudo muito difícil, mas seria pior se tudo fosse tão igual. Se todos tivessem as mesmas funções.
O bom (ou ruim) é que as possibilidades são tantas hoje em dia, que podemos disser que é mais fácil elas se encaixarem a nós do que nós a elas.
Depois de tantas reflexões, o remédio e o soro já tinham acabado de pingar. Eu pude ir embora. Fiquei na calçada do hospital esperando meu pai chegar para nos buscar, nisso a família da pessoa que tinha morrido estava atrás de nós. Mais uma vez pensei em muita coisa. E ao mesmo tempo agradecia a Deus, porque comigo era só dor de garganta. Meu pai chegou, fomos pra casa. Almocei sopa. O dia continuou bem. A dor já está bem menor, mas continuo assustada. Só que dessa vez não com o diagnóstico do médico. Com o futuro.
Inspiração: Precisa?