domingo, 28 de março de 2010

O fenômeno da intimidade tecnológica

Reunidas ali por boas xícaras de café, trocando novidades entre um gole e outro, tecendo comentários (o eufemismo das fofocas) acompanhados por biscoitos maizenas úmidos de café, uma amiga me surpreendeu. Foi quando ela disse, em um tom cômico – pelo menos isso! - que passava mais tempo dos seus dias com seu “celular esperto’’ do que com seu próprio namorado/marido. Aquilo de primeira me chocou. Resolvi seguir com a conversa, mas depois não pude evitar em pensar sobre isso.
Não é normal!
Certo? Afinal, é simplesmente um aparelho tecnológico, sem emoções, sem razão, sem assunto, sem graça, SEM VIDA. Ao oposto, seu amor. Com tanta emoção, racional, bom de papo, charmoso e cheio de vitalidade. E ainda assim, a carga horária é inversamente proporcional à vivacidade das partes. No entanto, alguns poderiam argumentar:” Ah! Mas isso faz parte das exigências da vida de uma mulher moderna em um mundo de conexões e contatos!”. Sem dúvidas que faz. Qualquer mulher – e homem – que almeje seus sucessos profissionais precisa estar conectada com o seu mundo de interesses, atualizada e organizada com sua agenda de compromissos.


A questão é: até que ponto isso é normal? Ou melhor: até que ponto devemos racionalizar tanto a vida? Isso porque, em meio a inúmeros telefonemas, problemas, mensagens, alarmes, reuniões, se perde muito sentimento. As pessoas parecem não achar mais horário para a surpresa, espaço para um beijo mais demorado, mais caprichado, para um abraço intenso. Enfim, o schedule não permite tempo para apreciar quem se ama.


Estamos conectados a muitos, mas envolvidos com tão poucos.* Isso pode parecer comum, mas não normal. Até porque, gente gosta de gente, sem intermediários tecnológicos. Gosta de toque, de olho no olho, de fazer nada acompanhado, de curtir e ser curtido. Então, sem ter que largar de mão o celular e afins, usando-o apenas como ferramenta que é, e mesmo com pouco tempo que ainda temos, deveríamos saborear melhor além do café, além do biscoito, o outro. Com todas suas doçuras e amarguras. Desde que com apreço. E se possível, sem pressa...


* Vide a quantidade de amigos nos nossos sites de relacionamentos.

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin