Foi quando eu estava escovando os dentes, eu parei para olhar a palma da minha mão. Estava com escritas em caneta azul. Eu tinha escrito as respostas objetivas da prova de geografia que havia acabado de fazer. Mas eu vi aquilo, e não pensei na prova, pensei na pele. Na minha pele, nas peles. A pele é parte do corpo, mas pouco se fala e repara nela.
Quando digo pele, digo desde a calejada de baixo do pé até a pálpebra que cobre nossos olhos. Já pensou quanta história nossas peles carregam? A minha pelo menos tem algumas bem interessantes para contar. A pele é cheia de detalhes e lotada de marcas. Algumas íntimas, outras que todos vêem. Outras até chamam atenção por sua beleza, outros por serem bem diferentes despertam agrado ou aversão, logo de cara.
São desde cicatrizes até sardinhas delicadas. E o mais bonito é que a nossa pele nem muda nem é trocada durante a vida. Apenas se renova. Mas ela está sempre ali, junto, bem grudada. Só ela sabe como foi aquela sensação prazerosa impossível de se explicar. Aquele toque ou aquele frio. Só ela sabe a dor sentida em cada machucado, em cada queda ou resvalo. Tem cores, tem pigmentos e maciez. É o nosso couro, nossa casca, nosso cobertor. A pele que enfeitamos com as mais diferentes tatuagens. Brincos, piercings, bronzeados... Quanta coisa é a pele! Quantas faces ela tem! Quantos nomes lhe batizaram! Mesmo sem boca ela sabe falar! Sabe se expressar e deixar-se ser interpretada!
As histórias que ela guarda, diário nem um é capaz de guardar. Porque o diário guarda só palavras, por mais lindas que sejam. E um dia ele termina. Mas a pele, ela nos prometeu, que enquanto nós estivermos, ela estará. E suas memórias são as mais vivas, árduas e sensitivas que se podem existir. E não há ninguém até hoje que foi abandonado por ela. Agora vejamos, reparemos em nossas peles. Lindas, não são mesmo? Mas ainda falta falar do mais importante da pele: ela carrega a alma. Abriga a alma. Cuida da alma como amiga, que também tem suas marcas e detalhes... Mas ela já é assunto para outra hora! Porque a alma, meu caro amigo, essa sim, é uma enorme biografia!
Inspirada por: ♫ Garota de Ipanema – Vinicius de Morais e Tom Jobim ♫
3 comentários:
Vista A Minha Pele
Vista a minha pele
Você conseguiria?
Seja negro só por um dia
Seja preto pelo menos por mim
Somando todas as minhas cores assim
Vista a minha pele
Assuma a minha cor
Seja você quem for
Capture radicalmente a minha dor
Bem lá dentro de mim
E procure me compreender melhor assim
Vista a minha pele
Eu sou igualzinho a você
Ser Humano, porque
Corpo, Mente, Banzo, Coração
Então questione racismo e discriminação
Vista a minha pele
Sou vermelho por dentro
E negro sempre cem por cento
Afrobrasilis, Afrodescendente
Muito além de para sempre
Inteiramente ser humano e sobretudo gente
Vista a minha pele
Vista-se epidermicamente de mim
E procure me entender como seu igual assim
Seu irmão da humana cósmica raça
E sinta tudo o que dentro de mim se passa
Assim você muito bem confere
Assim você vai realmente se sentir
Lá dentro da minha própria pele
Como eu quero ser árvore de leite e florir
Como eu quero ser janela de pão e me abrir
Como eu quero ser estrada de açúcar e prosseguir
Como eu quero o fim de diáporas e sorrir
Sem nenhum branco para me ferir
E você vai captar essencialmente então
A verdadeira pureza do que é primordial
E o que eu quero é total libertação
E todos iguais na aquarela da coloração
Numa brasileiríssima democracia racial
Vista a minha pele
Seja um pouco eu mesmo um negrão aí
Dentro de você - Para você sentir
Sou preto brasileirinho
Sou negrão e sou negrinho
Sou Negro e Ser Humano de igual valor
E tenho a África nas moendas e engenhos no meu interior
Depois de me vestir e depois de se sair de si
Deixando de ser eu negro aí
Venha me estender a sua mão
E, de coração para coração
Abrace-me como um seu completo irmão
A pele espiritual sendo uma só então
Numa sagrada e sideral celebração.
Silas Corrêa Leite
Nossa! Muito bom o texto Rafa! =)
Concordo, a nossa pele traz nossa história marca - literalmente - nela.
Eu tenho muitas cicatrizes, e sei a história delas, poderia escrever um livro sobre sobre minhas cicatrizes. E eu acho que tu também.
E escrever na mão? Faço direto. A pele tem prioridade que o papel.
PRESIDENTE BARACK OBAMA
Afro-América: Um Negro Afrodescendente no Poder dos Estados Unidos
“Deus não joga dados”
Albert Einstein
Depois de um operário metalúrgico (que foi perseguido, preso e condenado por uma ditadura militar incompetente, corrupta, violenta e senil) no maior país da sulamérica de áfricas utópicas, dando um show no poder do Brasil S/A, surpreendendo o mundo inteiro que elogia o Lula Light que tem um anjo no ombro direito como disse uma rainha européia, afinal, um negro vence as eleições para presidente nos Estados Unidos, e assombra o planeta todo pela conquista histórica. Num país extremamente racista, terra de Luther King, Barack Obama chega ao poder e enche a terra de homens livres de esperança por atacado. Será o impossível?
A América Rica respira luz. A América Pobre espera e confia. O câncer que o funesto neoliberalismo se tornou, uma falsa lei de oferta e procura (o crime lesa-pátria do camuflado livre mercado), máfias e quadrilhas no capitalhordismo americanalhado, depois do pior presidente que os EUA teve, o clã Bush que faliu o país, a esperança finalmente se renova com um negro de origem afromuçulmana de quilate e uma história surpreendente de evolução, determinação, estudos e grandeza limpa.
Parece um filme de Hollywood. Com roteiro de Monteiro Lobato.
Esperamos mudanças. Sim, nós também podemos sonhar com mudanças que ativem qualidades humanas e princípios de humanismo de resultados. Desde o fim do papel de xerife do mundo que os EUA presunçosamente ostenta, desde a abertura ampla e irrestrita do mercado interno para um globalizado mundo de países emergentes como o Brasil, desde o fim do boicote insano à Cuba, até a criação de um projeto de Fome Zero a nível Mundial. Ou, muito pelo contrário, talvez, nem tanto. A política econômica dos EUA é algo engessada, numa estranha democracia de só dois países se revezando no poder, mas, Barack Obama, advogado, negro, protestante que estudou o islamismo, de origem africana pobre, com uma portentosa primeira dama a lhe dar suporte e estrutura, talvez ainda assim e por isso mesmo possa finalmente impor seu estilo e ritmo todo particular de ser, todo pessoal.
As midiáticas aves de mau agouro, no entanto, como bruxas do retrocesso, aventam com a probabilidade do presidente negro vir a ser assassinado. Além de nebulosas lendas a respeito do presidente negro, coisa de reacionários de lá e de cá, mentes pequenas. A triste história se repetirá com Barack Obama também, a partir de poderosos feudos racistas do país mais rico do mundo, que tem a clandestina Klux-Klux-Klan? O mundo está de antenas ligado. Um novo ciclo se inicia.
No lumiar do terceiro milênio, a esperança se renova.
Só nos resta sonhar. Eu tenho um sonho, como Mártir Luther King. As comparações são inevitáveis. Eu era um guri que amava os Beatles e Tonico e Tinoco, e era contra o agente laranja na guerra do Vietnã, quando o grande líder negro dos direitos civis nos EUA foi morto e na verdade nunca se puniu o verdadeiro mandante, como também no caso dos Kennedys e outros.
Que a América Rica em vez de impor sua vontade de império bélico e econômico ao mundo (também em fase de mudanças radicais para melhor em todos os sentidos), parta para princípos éticos-humanitários de rever condições sazonais, atue em negociações honestas de campos diplomáticos, pense em seres humanos, não em estatísticas de bolsas de valores ou índices de crescimentos unilaterais em enriquecimentos ilícitos impostos por neoliberais, principalmente.
E que, em vez de mandar bombas para o Afeganistão, Irã ou Iraque, mande o seu famoso padrão de vida, de qualidade. Imaginem só – eu tenho um sonho (sonhar pode, Lennon?) – aviões norte-americanos de última geração, “bombardeando” países pobres ou com graves problemas, inclusive de fanatismo religioso ou ortodoxia marxista utópica, com tvs, i-podes, mpb-tantos, lap-tops, dvds, além de blues, filmes, hot-dogues, cokes, calça jeans, hambúrgueres, jipes da ford. Quem não quer?
Daremos nossa cota de dor aos brancos anglo-saxônicos?
O mundo espera e confia. Como um estudioso e pensador, sonho, teimo, avalio, mas pressinto, e estou de butuca, sondando o devir, mas torcendo a favor, claro. Quando dá lucro é privado, quando dá errado é público? Tô fora. Vade retro. Como disse o Lula Light quase vinte atrás, prefiro um capitalismo onde aquele que fabrica o carro também possa comprar um. Já pensou? Você pode sonhar comigo.
O mundo espera e confia. Que Barack Obama, estrela democrata seja o que se espera dele, e faça o mundo sonhar com uma paz cantada por John Lennon, e almejada por todos os povos. Que ele seja o fermento da mudança desejada, o sal entre as sepulturas mal-caiadas dos podres poderes insanos no planeta globalizando a sua economia mundializada só para alguns new-richs. Um índio, um religioso, uma mulher, um metalúrgico e agora um negro. Barack Obama será o inicio de um novo ciclo.
Conseguirá ele tirar o decrépito EUA das cinzas da história, das sombras de corrupções e roubos bancários legadas pelo Clã Bush et caterva? Sim, porque recebe a herança maldita do clã Bush, o pior presidente que o país teve, ou também pagará o amargo preço que a história racista dos EUA impõe ao país, entre imigrantes segregados, pobres abandonados à própria sorte, feudos de miséria e exclusão social, modelito canhestro copiado pela américa pobre de tantos ameríndios e afrodescendentes entregue à própria sorte? A sorte está lançada.
No Cassino do Humanus Mundi somos todos da espécie humana.
Que na terra dos homens livres, um negro digno brilhe como o Metalúrgico Lula no Brasil de tantas esperanças revisitadas.
Afinal, a esperança é a inteligência da vida.
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Silas Correa Leite – Poeta, Professor, Conselheiro em Direitos Humanos (SP)
E-mail: poesilas@terra.com.br site: www.itarare.com.br/silas.htm
Autor de Porta-Lapsos, Poemas, e Campo de Trigo Com Corvos, Contos.
Texto da Série: “Toda História é Remorso” Artigos, Ensaios, Bravatas, Panurgismos e Esperança de Humanismo de Resultados.
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