terça-feira, 14 de setembro de 2010

Como dizia o poeta

Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Nao há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão


Composição: Vinicius de Moraes / Toquinho

- Não é linda essa música?

Perguntava ele, concordava eu.

- Só essa parte que eu não concordo...

Me pôs a refletir...

- Ah! Mas eu concordo!

Afirmei.


E afirmei, agora vejo, mais pelo medo. Afinal, cada um não tem seus grandes medos? Então, um dos meus era justamente essa tal de solidão. Por isso, me coloquei logo a afirmar que qualquer coisa seria melhor que a solidão. Até mesmo um amor descompensado.


Mas será? Pensei.


Amor que não compensa é como saldo negativo, por mais calculista que isso soe. E de saldo negativo, todos correm. Não há amor que lide por muito tempo com prejuízos, e olha que eu não falo dos financeiros! Até porque mesmo esses são mais facilmente encarados quando se tem amor, digamos assim, com “divisão de partes iguais”. Já os prejuízos da alma não só são os olhos da cara, mas como o coração inteirinho junto!


E amor descompensado é assim... Muito amor vem daquele abraço, em contrapartida um tapinha nas costas para ficar confortável... Aquela ansiedade enquanto a pessoa amada não chega, os pés inquietos, as mãos suando e em contrapartida o atraso. O beijo carregado de entrega, cuidado para não perder cada detalhe do carinho, em contrapartida um contato desconexo e mecânico dos lábios.


Os prejuízos da alma não são, portanto, tão mais caros? Viver um amor a dois/a sós não é bem melhor que a solidão! Dependendo da forma como se encara a solidão, antes ela do que ele!


Sem pretensões de dizer como um poeta, mas acho que não era bem amor-que-não-compensa que compensa a solidão. Quem sabe uma paixão, que se permite no que é um desequilíbrio total das partes, uma admiração completa de mão única. Mas amor? Amor é pra valer! Valer a pena! Valer os conflitos, valer os defeitos um do outro, valer os problemas! Amor é pra compensar o pesar! Amor é equilibrar tudo que a solidão um dia nos desequilibrou. E amor desequilibrado é como solidão acompanhada... Simplesmente, não (se) faz sentido.



quarta-feira, 28 de julho de 2010

Enganada, mais do que aparentemente...

Uma corrida de táxi, eu sentada no banco de trás, ignorava as janelas que me mostravam o mundo fora do carro. Enquanto isso, folheava uma revista de beleza comprada minutos antes de entrar no táxi e que até então nunca havia comprado.

Pela primeira vez, passando pela banca, fui seduzida a passar mais que alguns segundos observando a capa da revista e acabei me rendendo aos encantos do belíssimo corpo, vestido em um biquíni, que a mesma exibia. Confessei para mim mesma, que era exatamente daquele jeito que gostaria de ser, e portanto, aquela revista eu aceitaria comprar. Eu a comprei. A foto era de uma linda ganhadora de um concurso de Miss. Uma beleza estonteante, que eu, se não mulher fosse, me apaixonaria – se é que assim já não estava.

Ainda dentro do táxi, ao ler a entrevista da bela da capa, descobri o que anunciavam como “Os Truques de Beleza da Miss”. Bons hábitos alimentares, malhação e dietas. Os meus olhos continuavam a passear, mergulhados por entre as letras e as fotos, nas páginas da revista. Em um dos “boxes” intitulado “Medidas de Miss”, parei, fixei, e assumi aqueles números como objetivos meus, parâmetros que agora decidiria seguir e alcançar.

Fim da corrida. Deixei o táxi e fui em direção de onde presumia resolver problemas de último prazo. Andei novamente ignorando o mundo, dessa vez, fora de mim. Resolvidos os problemas, lembrei como neste dia havia acordado com os olhos muito inchados, com suspeita de ter mais uma conjuntivite. Queria, portanto, um espelho qualquer para conferir que rosto inchado era esse que eu exibia ao andar ignorando o mundo. Porém que nos meus pensamentos, ninguém haveria de ignorar, tamanha a estranheza que poderia causar.

Foi logo no início da escada, em um canto, acompanha por um balde cheio de água turva de tanta sujeira, que encontrei uma senhora que poderia me dar essa informação, de onde achar um banheiro:

- Oi! Com licença, a senhora sabe onde tem um banheiro?

- Ah! Claro! Vou te levar até lá minha Miss!

Foram duas surpresas em uma só fala.

Normalmente, esperaria um simples dedo apontando o caminho até o banheiro, e talvez algo do tipo “à direita” ou “à esquerda”.

- Olha, minha Miss, aqui trabalham muitas pessoas o dia inteiro.

Dizia ela, apontando para os elevadores e me levando até eles. Para que segundo ela, eu pudesse ir até o segundo andar, onde ficava o melhor banheiro. A senhora incrivelmente simpática, chamou o elevador para mim, esperou que o mesmo chegasse, e me acompanhou até o banheiro.

No caminho, conforme encontrávamos seus colegas de trabalho, todos eles a cumprimentavam como “Vó” e com sorrisos bem abertos. Aquele jeito de chamá-la me soou tão bem e carinhoso que preferi não perguntar seu nome, ela era a Vó. Que vestia um uniforme cinza, encardido, tinha os cabelos bem pretos, presos, mas bagunçados. Em uma das mãos a Vó segurava uma vassoura enrolada em um pano igualmente encardido. Ela andava depressa para alguém da sua idade e com as costas tão encurvadas como as dela. Mostrava nesse mesmo jeito de andar, uma disposição a ajudar e, principalmente, a trabalhar. Limpava o que pudesse durante o caminho. Seu rosto transmitia uma alegria tão inocente. Ainda que as rugas tentassem dizer o contrário, não conseguiam.

Já no banheiro, expliquei que só precisava de um espelho, e portanto, ficamos fora das cabines em frente às pias. Ela pediu desculpas pelo o banheiro, disse que um dia já tinha sido melhor ainda, com torneiras de ouro! Quando, na realidade, o banheiro para mim estava mais do que impecável. Cheirava a limpeza. No entanto, aquela humildade e servidão me atingiram em cheio o coração. Perguntei há quanto tempo ela já trabalhava ali, ela respondeu:

- Quem trabalha é Jesus, minha querida!

Não entendi, e voltei a perguntar:

- Mas há quanto tempo a senhora trabalha aqui?

- Quem trabalha é Jesus, né, minha linda?

Percebi que não fora falta de entendimento meu e muito menos dela.

Na volta, a Vó parou em frente ao elevador que esperávamos, perguntou se eu fazia engenharia, respondi que não, que era caloura de Relações Internacionais. Expliquei o que faria cursando esta faculdade e ela começou a contar sobre seu filho, o qual havia acabado de entrar na Marinha. Contei que estava fazendo um estágio exatamente na Marinha, e tinha acabado de voltar de uma viagem com tenentes e oficiais da mesma. Papeamos um pouco, ela tocou no assunto do Uniforme “Chiquinho” que os oficiais usavam – aquele branco, lindo – e eu logo exclamei que também o achava lindo e morria de vontade de usar. Mais uma vez, ela voltou a me chamar de linda, disse que eu ficaria muito bem em um desses uniformes e encerrou dizendo que eu parecia uma Miss. Chegamos ao ponto em que eu havia a abordado pela primeira vez, me despedi, agradeci sua enorme atenção e fui embora.

Ao virar as costas para ir embora, lembrei que na primeira vez que vi aquela senhora, antes de pedir a informação, sua aparência corcunda havia me lembrado a bruxa que eu mais temia na infância, aquela da Branca de Neve e Os Setes Anões. Arrependi-me profundamente daquela lembrança. Aquela senhora, muito longe de ser uma bruxa, surpreendeu meu dia e me surpreendeu. Senti nos seus elogios uma sinceridade que há muito tempo não sentia, e ela me fez sentir bem e bonita. Ela, sem saber, me aproximou muito mais do que qualquer dieta ou academia daquela capa de revista idealizada que até então eu admirava com olhos de inferioridade.

Andei em direção a outro táxi, agora fazendo questão de não ignorar a paisagem. Porque, acabei me dando conta, de que é nela que se confundem e, muitas vezes, se apagam pessoas tão maravilhosas como aquela Vó que eu tive por aquele momento. E agora, escrevendo isso tudo, percebi como as aparências me enganaram, tanto na revista, como na vida real.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Breve lembrete de agradecimento

Todos têm suas formas de extravasar, fazer uma dor passar, enganar a saudade ou melhorar um momento de longa espera. Eu gosto de escrever. É disso que tiro o alívio para os momentos de raiva, onde posso achar a organização quando o mundo anda meio desordenado, mas é onde também posso bagunçar quando tudo está muito metódico.

É literalmente extravasar, mas, no meu caso, mais sutilmente. Extravaso nas últimas folhas do caderno, no cantinho do livro, na mensagem salva nos rascunhos do celular, no guardanapo do restaurante. Quando a inspiração vem, alguns pintam, outros cantam, outros dançam, eu escrevo.

Porém ultimamente, a inspiração simplesmente não vinha... Aliás, melhor dizendo, sempre estive, sempre estou inspirada, mas com o perdão de uma desculpa piegas, o tempo está cada vez mais escasso e os escritos acabam ficando pelos cadernos, livros, guardanapos... No entanto, sinto-me voltando a escrever com uma inspiração a mais. E por mim essa sensação ainda pode durar, durar, durar...

Então, por enquanto, só vim postar para agradecer a inspiração... Por isso, obrigada! Continue a me inspirar!


=)

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Tempos de Copa!

Tudo uma beleza! Muita torcida, muitas cores, muitas festas!

E que bom que é assim! Mas por outro lado...

Pouca idéia, pouca pauta, muita apelação.

Isso porque boa parte da mídia brasileira tem caído em repetição como nunca.Parece ter sofrido um efeito avassalador das “vuvuzelas”, a ponto de viciar-se no assunto que as contém.

Vejo, mais especificamente nas grades de programação aberta, como as pautas dos telejornais andam com uma falta de idéia do que falar, que na verdade seria melhor definida como falta de boas análises. Aliás, simplesmente falta de parar um pouco e olhar para o Mundo afora. Já estou cansada desta mastigação maçante da derrota do Brasil para a Holanda.

Acredito eu, que nós – telespectadores e povo brasileiro - já assimilamos que os repórteres estão buscando entender porque fomos eliminados da Copa do Mundo da África. Afinal, estamos juntos nessa, não é mesmo? Aliás, eu e a torcida – a favor e contra – do Flamengo também gostaríamos de uma explicação pontual. Eu disse: gostaríamos! Porque explicações existem muitíssimas, opiniões então, nem se fala! Achar uma pontual não é tarefa fácil, sequer possível.

Mas daí a fazer dessa procura pela razão da perda o assunto das matérias, do conteúdo do horário nobre da televisão brasileira, é revoltante. Quem trabalha com televisão – e quem está começando a entender o trabalho nela – sabe o quanto são valiosos segundos em uma transmissão. E ainda assim, segundos são dados para serem cuspidos em rede nacional.

Senão, me digam qual a serventia tem a suposta explicação do pé frio do Mick Jagger! As coincidências das suas aparições com as perdas são engraçadas? Claro! Ok! Vamos rir disso! Ele é uma celebridade que chama a atenção por onde passa e gera comentários? Sim! Comentemos! Mas também saibamos dar um rumo diferente nas discussões, nos comentários. Porque amanhã ou depois, o Mick Jagger morre, e seria uma pena se ficássemos sem assunto. Ou não, porque a morte dele servia para tal, né? Mas enfim...



Agora dizer que o sujeito tem pé frio porque é ALTO, MAGRO e INVEJADO, e mais, QUE PESSOAS QUE SÃO MUITO INVEJADAS SÃO – categoricamente – PÉ FRIAS, já passou um pouco do limite, não?

O problema é que a mídia brasileira se abastece de polêmicas. Umas muito importantes e utilitárias, outras tão inúteis e indiferentes quanto a presença do Mick Jagger para a decisão do resultado de um jogo de futebol. Ou, para citar um exemplo, saber detalhes da separação da Stephanie Britto com o Pato realmente acrescentou algo a sua vida? Isso para citar UM exemplo.


Espere durante uns quinze minutos em um salão de beleza que você encontrará mais centenas, no conteúdo disponibilizado para o seu entretenimento durante a espera.


No entanto, seria mais do que injusto criticar de forma ampla e abrangente a mídia brasileira quando quem a faz, de uma forma ou de outra, somos nós. A população brasileira. E nisso, claro, eu me incluo. Isto tudo é um grande reflexo de como se dão, em geral, as nossas rodas de conversas. O assunto mais interessante e mais comentado sempre acaba sendo o amigo gay que está começando a sair do armário, a terceira que tomou porre no último fim de semana, o deslize do colega, o término do fulano e por aí vai... E vai longe!

Nós nos alimentamos do que também damos de comer...



Enfim, isso foi mais um desabafo do que propriamente um texto! Fiz no último domingo, dia 4 de Julho!

domingo, 9 de maio de 2010

TODO ESSE GLAMOUR É FAKE!

Se não fosse antes estressante, a situação poderia ser descrita como cômica: anoitecendo, aquele cansaço de final do dia se instalando e minha atenção se dividia entre não pisar nas poças da chuva, me proteger da mesma com o resto de guarda-chuva que ainda não tinha quebrado enquanto eu evitava que minha bolsa também ficasse encharcada. Sem esquecer que tudo isso vinha conjugado com os inúmeros desvios entre as pessoas, para que elas não fossem atingidas por essa parafernália/“arma” chamada guarda-chuva quebrado. Feito esse circuito urbano com obstáculos , subi na van acreditando que teria meu Happy End nesta cena de filme à la Ben Stiller – onde tudo dá errado até que, enfim, tudo fica bem.
Doce ilusão... Imaginou uma van bem cheia em dia de chuva no RIO DE JANEIRO (ênfase no Rio de Janeiro)? Pois então, era pior...
Essa situação toda me fez refletir como a vida não é glamourosa (Não lembre do Funk do Marcinho!) e logo me veio em mente o título deste texto:

TODO ESSE GLAMOUR É FAKE!

Glamour
(palavra inglesa) s. m. Beleza sensual, considerada característica de certas !atrizes de Hollywood. (Fonte: www.priberam.pt) Encanto, fascínio, charme. (Fonte: www.michaelis.uol.com.br)

Além destes significados práticos e Hollywoodianos dos dicionários, pensemos em relação ao significado que temos do glamour em nossas vidas, durante o cotidiano. Virgínia Postrel, uma crítica cultural, deixa bem claro que glamour trata-se de uma falsificação. Uma falsificação com um intuito de vender uma idéia.
Eu diria, então, que glamourizar a vida é querer vender a idéia de que somos pessoas plenamente felizes, completamente realizadas, que temos algum – nem que seja um - tipo de poder e que tudo durante nossa vida dá certo, ou pelo menos, chega próximo do ótimo. É - como diria a expressão popular - forçar a barra! Ninguém é cem por cento do tempo glamouroso, então, porque a insistência em assim parecer?
Quem quer que seja, tenha o dinheiro que tenha, seja celebridade, seja socialite, seja eu, seja você passa por momentos de crise, momentos de pressão! E é aí que a coisa pega! E é aí que entra em teste todo esse glamour forjado, bem exposto em fotografias. Quero ver a vida cheia de glamour quando o pneu fura, quando o papel higiênico acaba, quando o guarda-chuva quebra... Afinal, ninguém está livre de conversar com alguém que tem mau hálito. E isso lá é glamour?
Pessoas muito preocupadas em glamourizar a vida, a todo instante – e a todo custo – não transcendem, não vão além da imediatividade do aqui e do agora. Já que transferem o motivo de suas reflexões para a constante preocupação de estarem com glamour. Transferem suas preocupações existenciais para o âmbito material da vida, que é efêmero e vazio. Ou seja, o tempo todo se preocupam em como estão sendo vistas e admiradas pelos outros. Convergem seus esforços para a tarefa de exibir e inspirar glamour, além é claro, de viverem na espera dos elogios por tão árduo trabalho. Pessoas assim, acabam deixando de existir, e passam simplesmente a ser.
Resumindo de forma bem direta: A vida real não tem glamour! Aliás, glamour é algo inventado que na origem de seu significado remete a encantamento mágico,ou seja, ilusão. No entanto, não por isso a vida é feia e chata. Até porque a associação de glamour e beleza é tão inventada como o conceito decorrente de glamour. Associação essa que não procede naqueles momentos anteriormente citados – e também em outros vários que não foram, mas que a vida se encarrega de exemplificar - em que nos vemos em meio a uma crise, a momentos de pressão ou a uma situação desesperadora que exige em último caso um toque de charme e beleza.
Viver sem glamourizar a vida não significa que devemos deixar de buscar e querer do bom e do melhor. Significa que não deveríamos nos preocupar tanto em parecer o bom e o melhor. Aliás, de forma mais ilustrativa, deveríamos nos preocupar em brindar de fato, do que garantir que o brinde seja com champanhe, cidra ou água.


Vale conferir a palestra da Vírginia Postrel sobre glamour, quem não tiver tempo/paciência para assistir toda ela, sugiro avançar para os 10 minutos de palestra!


Este é o link para a mesma palestra com legendas:
http://www.ted.com/talks/lang/por_br/virginia_postrel_on_glamour.html

Quem quiser comentar alguma situação da vida "desglamourizada" que já viveu, ia ser divertido! Fiquem à vontade! =)

domingo, 28 de março de 2010

O fenômeno da intimidade tecnológica

Reunidas ali por boas xícaras de café, trocando novidades entre um gole e outro, tecendo comentários (o eufemismo das fofocas) acompanhados por biscoitos maizenas úmidos de café, uma amiga me surpreendeu. Foi quando ela disse, em um tom cômico – pelo menos isso! - que passava mais tempo dos seus dias com seu “celular esperto’’ do que com seu próprio namorado/marido. Aquilo de primeira me chocou. Resolvi seguir com a conversa, mas depois não pude evitar em pensar sobre isso.
Não é normal!
Certo? Afinal, é simplesmente um aparelho tecnológico, sem emoções, sem razão, sem assunto, sem graça, SEM VIDA. Ao oposto, seu amor. Com tanta emoção, racional, bom de papo, charmoso e cheio de vitalidade. E ainda assim, a carga horária é inversamente proporcional à vivacidade das partes. No entanto, alguns poderiam argumentar:” Ah! Mas isso faz parte das exigências da vida de uma mulher moderna em um mundo de conexões e contatos!”. Sem dúvidas que faz. Qualquer mulher – e homem – que almeje seus sucessos profissionais precisa estar conectada com o seu mundo de interesses, atualizada e organizada com sua agenda de compromissos.


A questão é: até que ponto isso é normal? Ou melhor: até que ponto devemos racionalizar tanto a vida? Isso porque, em meio a inúmeros telefonemas, problemas, mensagens, alarmes, reuniões, se perde muito sentimento. As pessoas parecem não achar mais horário para a surpresa, espaço para um beijo mais demorado, mais caprichado, para um abraço intenso. Enfim, o schedule não permite tempo para apreciar quem se ama.


Estamos conectados a muitos, mas envolvidos com tão poucos.* Isso pode parecer comum, mas não normal. Até porque, gente gosta de gente, sem intermediários tecnológicos. Gosta de toque, de olho no olho, de fazer nada acompanhado, de curtir e ser curtido. Então, sem ter que largar de mão o celular e afins, usando-o apenas como ferramenta que é, e mesmo com pouco tempo que ainda temos, deveríamos saborear melhor além do café, além do biscoito, o outro. Com todas suas doçuras e amarguras. Desde que com apreço. E se possível, sem pressa...


* Vide a quantidade de amigos nos nossos sites de relacionamentos.

domingo, 21 de março de 2010

O poder INSTALADO

Que me perdoem Lulu Santos, Cidade Negra e os que gostam da música, mas todo mundo também espera alguma coisa de uma sexta à noite. Talvez, esse seja o motivo que leva tantas pessoas a enfrentarem filas planetárias – literalmente, pra quem me entende – para curtirem uma noite em, por exemplo, uma boate da zona sul carioca.

No entanto, foi durante a espera em uma dessas filas, que presenciei o inesperado. Porém não inesperado no sentido surpreendente. Inesperado, no sentido de boquiaberto, de “como assim?”, de “não estou acreditando!”, enfim, um inesperado impressionado.

Sem o mínimo pudor pela quantidade de pessoas de pé na espera - ou até pela empolgação de tamanha platéia – uma celebridade global instalou o que ficaria melhor definido como: a institucionalização monetária do poder. Com seus tão exibidos malotes de dinheiro tirados do bolso, criou-se uma atmosfera de “rei e seus súditos”. Já que o acesso ao privilégio de finalmente entrar na boate ficava por conta da escolha a dedo do global – sustentada pelos seguranças do local – ou da persistência e paciência em ficar de pé na fila.
Resumindo, ou ganhava-se o “título de nobreza” ou conquistava-se por mérito. E não bastasse a ostentação deslavada, os sorrisos de “eu estou podendo, nessa porra!” vinham seguidos de ressalvas irônicas em alto e bom tom do próprio:
- É o dinheiro! É o dinheiro!
Certo, não sejamos hipócritas, sabemos que o dinheiro move montanhas nesse mundo, e é óbvio que tomadas de poder desse tipo já são mais do que corriqueiras no cotidiano do Brasil, já fazem parte da descrição do nosso jeitinho brasileiro. Mas isso tudo ali na televisão, na notícia narrada pelo Bonner. Assim, tão de perto, tão escancarado, me deixou bem revoltada. Eu sei que não deveria, que a revolta tinha que ser independente do grau de envolvimento nas consequências da corrupção, mas ali, de pé, com salto alto prendendo nos paralelepípedos do chão, cansada já de tanto esperar e simplesmente tendo que conviver com um abuso de poder, com uma ostentação ridícula, acabou me revoltando mais ainda.
O problema não era a quantidade de dinheiro, o quão rica a pessoa era - aliás, que bom então que ela conquistou isso e agora pode usufruir – era mesmo a situação, o alarde, o despudor/prazer em ostentar, e a facilidade que as pessoas têm de aceitar serem levadas por alguém que se diz melhor conforme os critérios que constituiu inconstitucionalmente.
Agora concordando com os talentos citados no início: sim, todo mundo sonha em ter uma vida boa – financeiramente também, claro!-, mas ninguém necessariamente precisa ficar sabendo disso, ainda mais em um espetáculo regado à ostentação na porta da boate. Poupe-me...

segunda-feira, 1 de março de 2010

Conquistando ou Entretendo?

Última conferida no espelho, última borrifada de perfume, retoque no batom, cabelos soltos e equilíbrio sobre o sapato de salto alto. Estava pronta. A partir daí tudo que poderia acontecer estaria por conta do acaso de um encontro. Todo aquele processo de conhecer o outro estava só começando, as surpresas ainda continuavam guardadas. Por enquanto, a aparência já havia feito o papel da atração – e como dizem por aí - faltava o conteúdo fazer seu papel de convencer. O papo ia bem, cada um falando um pouco de si e das suas experiências, a mesa em pouco tempo tornou-se completa com outros casais, até que surge o comentário terceiro que me fez refletir: “Ah, eu gosto mesmo é de mulher malucona! Daquelas que sobem na mesa pra dançar!”.

Confesso que posso até ser injusta na interpretação, mas aquilo chegou aos meus ouvidos como uma sutil indireta. Afinal, não me sentia na situação mais confortável do mundo, estava inegavelmente tímida e, portanto um pouco “travada”. No entanto, assimilei aquilo e resolvi que continuaria sendo eu mesma, mesmo que tímida naquele momento em especial. Já em casa, fiquei feliz comigo mesma de não ter alterado meu comportamento simplesmente para agradar, conquistar ou causar algum tipo de boa impressão. Sinto até que isso me fez mais confiante naquela noite. Qualquer que fosse o assunto e a situação, sendo eu mesma dificilmente cairia no ridículo. E se caísse? Sem problemas, a proposta não era nos conhecermos? Essa era eu.

Enfim, a questão não é o que outro gosta que você passa a ser, mas o que você é e o outro passa a gostar, admirar. No entanto, vivemos querendo ser o que os outros já ditaram ser melhor. Sem perceber que o mais cativante é o encontro dos gostos, a afinidade que acontece naturalmente, não aquela que é construída. A conquista baseada no “ser o que o outro gosta”, é tão superficial como beijar um desconhecido. Afinal, terminado o encontro, ao olhar novamente no espelho é bom que você se reconheça para ser conhecido, porque o perfume evapora, o batom desbota e uma hora você tem que descer do salto...

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